Leia o prólogo de "Julia", meu próximo livro!
- Sarah Summers
- 15 de out. de 2024
- 10 min de leitura
Se você é como essa autora que não se aguenta de ansiedade nos mais mínimos assuntos da vida, vai gostar dessa novidade.
Logo abaixo você encontra em primeiríssima mão o prólogo do meu próximo lançamento, Julia, da série Amigas & Rivais.
Essa é a oportunidade que você tem de responder algumas perguntas sobre a nossa protagonista carioca favorita além de conhecer um pouquinho mais do passado desse romance que já leva DEZ ANOS.
(Olha eu falando demais. Talvez devesse apenas apresentar o prólogo mesmo.)

Prólogo
Nove anos e onze meses atrás.
Não havia um só ruído no luxuoso escritório.
Por incrível que pareça, o fato de a sala estar tomada de pessoas não fazia do local um lugar barulhento.
Meu coração batia acelerado, como andava fazendo desde que comecei a ter crises de ansiedade. Mas eu não teria uma crise logo ali... teria?
Não, isso não poderia acontecer. Não agora.
Nando: "Vai me dando notícias".
Leio a mensagem rapidamente depois do susto de sentir o celular vibrar em minha mão.
Nando, meu namorado, está preocupado.
E ele tem razão.
Se tem uma coisa que todos precisam saber sobre minha família, é que ela é tóxica. Como uma grande e poderosa planta carnívora que expele veneno, daquelas saídas de um filme de ficção científica.
E agora que estamos todos reunidos para a abertura do testamento do meu recém-falecido avô, o nível de toxicidade está nas alturas.
Tudo por conta do dinheiro. Ele faz isso com as pessoas, não faz? Corrompe e as deixa fazerem coisas inimagináveis.
Olho ao redor mais uma vez, encarando a todos. Meus pais, meus tios que cochichavam um para o outro, e meus dois primos, que nunca cansaram de implicar comigo quando criança, até que o famoso dinheiro falou mais alto.
Somos todos uma grande família de advogados aqui. Assim, ninguém olha para o testamenteiro com cara de interrogação enquanto ele lê o documento deixado por vovô Gustavo. E como uma das mais tradicionais famílias da sociedade carioca, tudo é muito sério e polido.
Movo-me na confortável poltrona quando penso em meu segredo.
"Uma família de advogados, isso é o que somos", era o que meu pai sempre me dizia. Assim, não havia outra profissão para mim além dessa.
O que ele diria quando soubesse que tranquei a faculdade há um mês?
Saio de casa todos os dias no mesmo horário, mas na verdade vou para a casa de Nando e fico esperando-o retornar das aulas. Ele tem sido meu porto seguro, minha salvação em meio ao meu afogamento pessoal.
Balanço a cabeça a fim de espantar qualquer pensamento de um conflito entre meus pais e eu. Porque senão, olá, crise de ansiedade.
E nós não queremos uma crise agora, não é mesmo?
Sorrateiramente, controlo minha respiração e tento voltar a prestar atenção no que o advogado de vovô Gustavo diz. Ele tem toda a minha atenção e a de meus pais quando fala meu nome completo logo em seguida.
― Para ela, minha única neta, deixo um fundo fiduciário no valor de cinco milhões de reais. Ela poderá ter acesso a esse dinheiro apenas e quando se casar dentro dos próximos dez anos. Ao fim desse prazo, ao não concluir o que é requisitado nesse testamento, o dinheiro deverá ser destinado ao Hospital Santa Casa...
Espere aí um momento.
Minha mente estava em branco, enquanto minha boca secava tal qual um deserto. Meus pais sorriam um para o outro, enquanto meus tios e primos nos encaravam com ganância.
Eu fui a única neta a receber a herança em dinheiro, ao contrário dos meus primos que receberam propriedades.
Mas a que preço?
― Não entendi ― me ouço dizer em algum lugar da minha mente.
É como se eu não estivesse ali, fosse uma mera espectadora de uma longa e desastrosa reunião.
― Julia, querida, seu avô foi muito generoso com você... ― ouço minha mãe dizer, enquanto nada ao meu redor parece real.
― Mas... ― mordo o lábio quando encaro meu pai.
Vovô Gustavo é o pai do meu pai. E, apesar de ele e meu tio receberem muitas condolências no velório, os dois não derramaram uma só lágrima pelo patriarca da família.
― Há algumas outras condições ― o advogado à nossa frente diz, ganhando a atenção de todos.
Abro a boca, porque quero entender melhor o que está se passando, mas meu pai põe sua grande mão em meu ombro.
― Vamos ouvir o Dr. Luís, Julia.
Em silêncio, concordo balançando minha cabeça.
― Como condição final para o desfrute do fundo fiduciário, exijo que o casamento seja realizado de acordo com o rigor da lei e que o noivo seja alguém de índole indiscutível, do qual eu certamente aprovaria. Sua profissão deve ser de prestígio, íntegro, de uma família tradicional e com uma criação com base no que há de melhor na moral e nos bons costumes.
O Dr. Luís termina de ler o parágrafo e nos encara.
Podia sentir a angústia começar a tomar conta do meu corpo. Respiro fundo. Faço contas mentalmente.
Não está dando certo.
Não posso acreditar no que vovô Gustavo fez.
É bem verdade que a família sempre me considerou uma espécie de rebelde. Nunca fui um exemplo de recato e submissão entre as tantas regras e etiquetas, mas querer influenciar em um casamento?
Onde vovô estava com a cabeça?
Ah, é claro.
Nando.
E como por mágica, meu celular vibra mais uma vez e vejo a imagem do meu namorado, lindo de morrer, no aparelho.
Minha família e Nando se encontraram apenas uma vez, mas foi o suficiente para quase desencadear uma guerra. Meu namorado é bonito, me trata mais do que bem, e adivinhem só: cursa direito na mais prestigiada universidade particular do Rio de Janeiro. Mas nada disso importa para as pessoas à minha volta. Tudo o que elas enxergam é o fato de Nando ser pobre.
As vozes dos meus pais, falando entusiasmadamente, me tiram dos meus devaneios.
― E o filho dos Andrade? Não é um bom partido? ― é meu pai quem fala.
― Ricardo, pelo amor de Deus, o garoto vive em clínica de reabilitação...
― O que vocês estão fazendo? ― falo, mas parece não ser alto o suficiente, pois todos continuam conversando entre si. ― Ei, eu estou aqui! ― quase grito.
Meu pai faz questão de fazer um sinal com a mão para que eu esperasse um momento.
Esperasse pelo quê? Pelo fato de estarem decidindo meu futuro sem o meu consentimento? Ou de não se importarem com a minha felicidade?
― Pode ser um casamento mais reservado, algo no interior, em uma fazenda... Ou talvez em Angra... ― captei minha mãe falando.
― Não tão rápido, para não pensarem que ela está grávida ― minha tia disse, bem mordaz, e foi o suficiente para mim.
― Eu estou aqui, estou ouvindo tudo o que estão dizendo ― digo alto o suficiente, de uma forma que chama a atenção de todos na sala.
― É claro que está, meu bem ― minha mãe, com sua maquiagem perfeita e seu terninho branco milimetricamente bem passado.
― Então por que estão falando essas coisas como se eu não estivesse aqui?
Papai revira os olhos ao me encarar, e isso parte meu coração de mil e uma formas, enquanto a angústia em meu peito apenas aumenta.
― Julia, sente-se. Já está mais do que na hora de deixar de lado suas excentricidades. Esse é o mundo real, minha filha, e você fará o que é melhor para essa família. Pode ter certeza de que é o que é melhor para você também.
― Como é? ― olho para minha mão direita, estou suando e tremendo. ― Excentricidade? Você acha que não querer me casar com um completo desconhecido apenas por dinheiro e pelo bem da família é uma excentricidade? Em que ano estamos? 1830? A propósito, eu tenho namorado. Ele se chama Fernando.
Minha mãe coloca as mãos nas têmporas.
― Sim, o negro. Sobre isso, conversaremos em casa mais tarde ― meu pai se levanta e aponta para a cadeira em que eu estava sentada até instantes atrás.
Nego com a cabeça.
― Por que não falar disso agora? Vamos lá, vocês não gostam do Nando porque ele é pobre, mas...
― Se fosse apenas isso, Julia, nós estaríamos mais do que aliviados... ― minha mãe cochicha de uma forma que a sala inteira ouve.
Era um show e tanto que meus tios e primos acompanhavam, enquanto o próprio Dr. Luís ajeitava sua gravata e pigarreava.
― Eu não irei terminar com ele, se é o que querem. Pois muito bem, se querem um casamento, me casarei com Nando.
Papai se aproxima de mim em uma velocidade que me assusta. Seu dedo indicador está apontado para mim, enquanto seu rosto está tomado pela cólera.
― Agora não é hora nem lugar, mocinha, e antes que continue alimentando essas ideias escabrosas na cabeça, ouça o que seu avô disse no testamento: alguém que ele aprovaria. Seu namoradinho não cumpre os requisitos para que você receba o fundo fiduciário e, muito menos, para fazer parte dessa família.
Um filme começa a passar em minha mente.
Encaro os vidros da janela e percebo que não sei muito bem quem eu sou. Desde pequena, vestindo as roupas que minha mãe acha melhor para mim. Meus olhos se arrastam pelo vestido que estou vestindo. É rosa e delicado, a musselina toca minha pele e se molda às minhas curvas. Definitivamente, é o que eu estava acostumada a vestir, não o que eu queria vestir.
E, assim como as roupas, todo o demais em minha vida era guiado pela vontade dos meus pais.
Menos Nando.
O aperto em meu peito aumenta ao imaginar eu abandonando-o. Ele era perfeito. Não havia nada de errado com ele.
Por que meus pais não podiam enxergar isso?
É só então que me dou conta de que sou uma marionete nas mãos da minha família. De alguma forma, mesmo convivendo com todas as pessoas naquela sala desde que me entendo por gente, eu sou diferente. E que eles nunca vão estar satisfeitos. Vão sugar tudo que há de diferente em mim para que eu faça as suas vontades e me torne o mais próximo daquilo que eles realmente são.
― Não consigo respirar ― sussurro e sinto a primeira lágrima cair em meu rosto.
― Julia? ― minha mãe me observa com estranheza, mas ela não me oferece seus braços quentes para me acolher. Ela busca os olhos do meu pai.
Que, por sua vez, continua me encarando com desgosto.
― Recomponha-se ― ele diz apenas e volta a se sentar. ― Continue, Dr. Luís.
― Não ― o Dr. Luís preparava-se para voltar à leitura do testamento quando minha voz ressoou na sala. Todos me encararam mais uma vez. ― Não vou ceder às vontades dessa família. Nem pelo vovô, nem por vocês.
― Julia... ― a paciência do meu pai estava no limite, eu podia sentir.
Mas, pela primeira vez, eu não me importava.
― Se Nando não serve para cumprir as exigências do testamento, então adivinhem só? Eu também não. Essa coisa que vocês fazem comigo, isso termina aqui. Não vou ceder a nenhuma chantagem emocional de vocês, nem vou me condenar a ter uma vida infeliz como a de vocês dois.
Minha mãe arregala os olhos quando me ouve dizer a última frase.
― Cale-se, Julia ― papai se levanta mais uma vez e passa as mãos por seu cabelo grisalho.
― Não vou me calar. Não vou fazer o que vocês querem, dessa vez. Eu não quero para mim a vida que vocês levam.
Estava arfante, minhas mãos e pés eram uma cachoeira, podia sentir meu coração querendo saltar para fora do peito.
― Você não duraria um só minuto sem a vida que te proporcionamos, Julia. A faculdade, o carro, suas compras e viagens...
― Eu larguei a faculdade.
E assim, tenho a atenção de todos, até do Dr. Luís.
― Você fez o quê? Há quanto tempo?
― Há um mês, e me sinto muito melhor sabendo que não serei uma advogada.
― Meu Deus! ― minha mãe abaixa a cabeça com os olhos marejados. ― Foi ele, não foi? Ele te obrigou a isso.
― Nando não tem nada a ver com isso. Ou melhor, ele tem tudo a ver. Graças a Nando eu consigo ver que existe muito mais do que as paredes da nossa casa. Eu escolho o Nando, papai, escolho a minha felicidade.
Volto até a poltrona em que estava sentada e pego minha bolsa.
― Se você sair por essa porta, Julia, pode esquecer qualquer luxo que esta família te oferece. Não vou aceitá-la de volta quando aquele infeliz a abandonar grávida e na sarjeta. Não cuidarei dos seus rebentos, nem pagarei uma só conta.
― Ricardo, pelo amor de Deus! ― mamãe implora.
― É assim que será, Luísa, e ponto final. ― meu pai me observa com dureza, como se eu fosse sua inimiga. ― O momento de escolher é agora, escolha com inteligência.
Um de meus primos está de pé, há alguma consciência em alguém nessa sala. Mas eu o rejeito com um balançar da minha mão esquerda.
― Adeus, mamãe ― ela soluça pela primeira vez. Dr. Luís lhe oferece um lenço de papel. ― Até nunca mais, papai.
Quando a porta do escritório bate às minhas costas, me escoro na parede porque minhas pernas parecem ser feitas de gelatina. Quando a ansiedade explode em meu peito, estou aos prantos dentro do elevador.
Não vejo ninguém à minha volta, mas sinto o celular vibrar em minha bolsa pela milésima vez.
Nando.
Escutar sua voz era tudo que eu precisava nesse momento.
Quando chego ao saguão do prédio, pego o aparelho em minha bolsa e, como um autômato, busco seu número na agenda. Ele atende no primeiro toque.
― Amor?
Abro a boca, mas nem o mais baixo dos ruídos sai dela.
― Julia? Onde você está? Não estou te vendo.
― Eu preciso ver você ― falo de um jeito afogado entre as inúmeras lágrimas.
― Eu estou aqui, em frente ao prédio, só me diga onde você está.
Não consigo responder, apenas vou em direção à saída do saguão. Assim que passo pelas portas giratórias, o sol do meio da tarde me recebe, e o fluxo de pessoas me assusta.
― Nando, eu...
― Te achei! ― É a mão dele que me segura no instante seguinte.
Caio em seus braços e me permito ser eu pela primeira vez em muitas, muitas horas. O choro é pesado, e chamamos a atenção de vários transeuntes.
― O que veio fazer aqui? A gente combinou de se ver só à noite.
― Eu fiquei preocupado, amor. E estava certo. O que aconteceu?
Só então me dou conta: não posso revelar a verdade.
Não posso dizer a Nando por que rompi com meus pais. Ele se sentiria culpado, além de ficar mal. As palavras de por que meus pais não o aceitavam não podiam sair da minha boca. Isso o destruiria.
E Nando era perfeito para mim, para o mundo e para qualquer coisa que fizesse.
― Eu... eu contei a eles. Sobre a faculdade.
Ele faz uma cara de quem imagina o quão feia deve ter sido a conversa.
― Eu rompi com eles, Nando. Não quero voltar para minha vida. Eu não posso ser advogada, não posso continuar vivendo algo que eu não quero.
― Eu sei, amor, eu sei. Você é maravilhosa, sabe disso. Não é um diploma que vai fazê-la melhor ou pior.
Seus dedos limpam meus olhos com um lenço de tecido que ele tira do bolso. Nando está de terno e gravata, provavelmente pediu licença do estágio só para ir me ver, ou pela possibilidade de talvez me ver.
Então eu sei: é ele. Não haverá outro.
― Vou te levar para casa.
"Casa" era a casa dele, mas, no fundo, a verdade pouco a pouco começa a me fazer ficar mais calma.
Nando e eu somos a casa um do outro.
CONTINUA...
A previsão de lançamento de "Julia" é ainda para 2024.
Fique por dentro de minhas redes sociais para saber as novidades.
Comentários